Tuesday, March 20, 2007

PROCRIAÇÃO MÉDICA ASSISTIDA

A recente Assembleia Plenária da Conferência Episcopal Portuguesa que decorreu em Fátima trouxe, outra vez, para a ordem do dia, o mais que estafado problema da procriação médica assistida (P. M. A.).

Desta forma, a Conferência Episcopal da Igreja é frontalmente contra a “lei” da procriação médica assistida, acompanhando assim os movimentos de cristãos laicos que promoveram um abaixo-assinado, pelo qual desejariam obrigar a Assembleia da República a discutir um referendo sobre a lei da P. M. A.

Tal posição não é nova, já que o porta-voz da Conferência Episcopal, reunido em Fátima com dirigentes destes movimentos, afirmou que o texto da lei era “altamente ofensivo para a dignidade humana do embrião.”

Compreende-se perfeitamente que a dupla separação entre sexualidade e procriação e entre as componentes afectiva e biológica do lado procriativo inquietem a Igreja. É que o que está em questão muda os pressupostos que, ao longo da história do Homem, fizeram também parte da história inicial de cada um dos seres humanos.

Resta saber se os conhecimentos da Ciência Moderna, sejam eles quais sejam, não questionam sempre os restos e os resíduos históricos dos quais emergem, seja na microbiologia, na manipulação genética, na física de partículas, na procriação médica assistida, etc.

É que o caminho da ciência provém directamente do saber e não de qualquer objectivo moral que o saber científico deva supostamente servir.

Por isso, em última análise, todos os critérios éticos que proliferam actualmente, ao desmentirem os limites próprios da ciência, ou seja, a ética inerente à atitude científica, representam a maior das caricaturas. Ou seja, aquela que pretende dar “rosto humano” ao que constitui o fundamental do propósito humano, a saber, o aprofundamento do conhecimento sobre si e sobre o mundo.

A “sabedoria” eclesiástica, a propósito do progresso científico, apenas reproduz a sabedoria comum que pura e simplesmente teme que a manipulação da natureza pela ciência retire sentido à existência, como se a atitude científica não fosse ela mesma da ordem do sentido de conhecer, investigar, enfim, fazer progredir a própria natureza humana.

É por isso que, e ao contrário do que se limita a ser senso comum, acho profundamente insuficiente a aprovação pela Assembleia da República da lei sobre a procriação médica assistida. Em primeiro lugar porque, convém não esquecer, a entrada em vigor do decreto-lei n.º319/86, relativo à P. M. A., já tem 20 anos e continua por regulamentar. Tristes vinte anos de omissão científica, exponenciada na sociedade portuguesa por Cavaco Silva, Guterres, Durão Barroso e Santana Lopes.

É que, sem entrar em questões técnicas sobre o número de ovócitos por ciclo, sobre gâmetas e outros, o simples facto de que quer o PS quer o PSD restrinjam a aplicação da futura lei a casais, dá-nos a medida do atraso civilizacional do país. É que, para além das mulheres casadas ou em união de facto, existem outros humanos. As que estão sós por opção, as que se divorciaram, as que enviuvaram. Serão estas mulheres cidadãos de segunda categoria? É por isso que nestas matérias José Sócrates parece representar um mal menor face ao saber científico vigente. Triste opção esta da política à portuguesa. Uma vez mais a questão não é da “esquerda direita volver”, é da ordem da modernidade.

LINGUAGEM E POLÍTICA

A política assemelha-se frequentemente à evolução de linguagem nas sociedades ocidentais.

Não me referindo já aos fundamentos judaico-cristãos e atendo-me tão só à relação entre linguagem e Idade Média, um facto se torna relevante. Lendo os Doutores da Igreja (Sto. Agostinho, S. Tomás de Aquino, etc.) torna-se óbvio que a linguagem era tão só linguagem de uma outra linguagem. Esta, consistiria no livro anterior à fala humana, livro escrito por Deus e do qual o homem balbuciava a tradução.

Com o Renascimento, mas sobretudo com o Iluminismo, a linguagem abandona o campo da decifração de Deus para passar mais e mais a uma linguagem analítica e combinatória, a linguagem da razão, a racionalidade da linguagem. A leitura por exemplo de Kant faz-nos perceber como o subjectivo objectiva, ou seja, como o campo da fala se destina a criar relações com os objectos e com o mundo que rodeia o homem.

A psicanálise introduz uma terceira rotura entre o homem e a linguagem. Galileu retirou à Terra e portanto ao homem a condição de serem o centro do universo, já que não era mais o Sol que andava à volta da Terra, era a Terra que andava à volta do Sol. Darwin ao fazer do homem uma evolução dos primatas, retirou-lhe de vez a ilusão criacionista (o homem foi feito à imagem e semelhança de Deus), para o colocar num modelo evolucionista que nos “reduz” à condição de macacos falantes.

Porém Freud foi mais longe ao mostrar que nem de nós mesmos somos o centro. O que falamos é semelhante a um iceberg, 1/5 vê-se, 4/5 são invisíveis. Mas é aí, nos 4/5 escondidos que soçobram as almas dos homens pelo conflito, pela tristeza, pelo desencanto. Já não há portanto uma linguagem de um Eu, mas outro sim um Eu apropriado pela linguagem, sendo esta portanto o centro e o desvio do centro do sujeito.

Aqui, é a subjectividade que se objectiva onde, como atrás afirmamos, outrora era objectividade subjectivada.

A política encontra-se também presa aos mesmos paradigmas. Daqueles que na senda latente de um medievalismo escondido supõe que tudo está escrito, basta decifrar.

É a ilusão maior do leninismo e seus derivados, quando supõem uma escrita determinista do clã à tribo, da tribo ao feudalismo, deste ao capitalismo, depois ao socialismo e finalmente a terra prometida, o comunismo.

Por baixo de uma retórica pseudo-científica encontramos Sto. Agostinho de braço dado com Galileu, ambos crentes no determinismo, ambos assombrados por um destino que só a linguagem (retórica ou científica) permitiria decifrar. Foi também essa a ilusão patológica do corporativismo salazarista ou da Assembleia Constituinte que “pariu” um país em direcção a uma sociedade sem classes.

Mas face a esta linguagem da realização é cada vez mais necessário opor uma linguagem da escuta. Escuta do cidadão, do sujeito individual, das aspirações e dos conflitos da sociedade civil. Esta forma de fazer política com humildade, só é possível se o Eu político não se pensar dono de uma linguagem, mas atravessado por uma linguagem. De certa forma, o Eu Cavaco, Presidente e o Eu Sócrates, Primeiro-Ministro, parecem fazer um esforço por ir por aí.

O futuro nos mostrará se a persistência nesta dimensão, poderá continuar a ser viável.

O NATAL DO NOSSO DESCONTENTAMENTO!

Não sou, não fui e, provavelmente, nunca serei crente. Uma racionalidade feroz inibe-me de qualquer outra coisa que não seja esta posição de base que nem sequer roça o agnosticismo.

Estou, por isso, completamente à vontade para escrever sobre as paródias anti-natalícias que pareceram invadir a Europa neste Natal de 2006. Tais factos foram particularmente evidentes em Espanha e em Inglaterra.

Alguns exemplos, pelo seu aparente ridículo, dão para pensar. Em Mijas (Málaga), a directora de uma escola pública colocou no lixo um presépio feito por alunos da disciplina de religião já que, segundo ela, numa escola pública de um país laico não deveriam ser permitidos símbolos religiosos. Também em Espanha, em Saragoça, foi decidido numa escola não haver festa de Natal para não correr o risco de ofender as crianças não cristãs. Em Inglaterra, várias empresas querem branquear as celebrações de Natal, para além de que algumas autarquias ensaiaram retirar as referências cristãs ao Natal. Pasme-se! No Canadá, tal problema, há cerca de seis anos, chegou a ser abordado no parlamento.

Na Alemanha, autoridades municipais objectaram à exibição do filme “O nascimento de Cristo”, considerando que este poderia ser motivo de ofensa para não cristãos.

Tal como Jeff Randall, jornalista britânico agnóstico, acho totalmente absurdo transformar o cristianismo em crime. Tal como aquele jornalista, só posso entender estas práticas como da ordem da auto-humilhação.

Porém, e independentemente dos múltiplos protestos que tais práticas suscitaram, estas são evidentemente da ordem do sintoma, neste caso o da supressão, na letra, na palavra e na acção, do que constitui a festa por excelência da família nos povos europeus.

Só um puro sentimento de cobardia (física e intelectual) pode justificar o início de uma pseudo-descristianização que remete tão-somente para aspectos arcaicos do pensamento, sobretudo os ligados aos medos e ansiedades primitivas.

O familiar, o conhecido, o espaço-tempo onde envolvemos calorosamente as nossas festividades, corre assim o risco de se transformar no estranho, no lúgubre, no ameaçador.

A pergunta é de uma dimensão inquietante. Onde nos levará o multiculturalismo, literalmente beato que, par e passo, mina as fundamentações simbólicas de uma cultura.

A resposta a esta questão é mais e mais da ordem do desmentido. Desmentido da nossa realidade, desmentido da nossa História, desmentido dos nossos símbolos.

Mil vezes Saladino expulsando os cruzados de Jerusalém. Mil vezes a confrontação clara, a única capaz de conduzir ao diálogo entre diferentes formas de olhar a Deus.

O que não é suportável para um não crente como eu é a estupidez politicamente correcta que apenas conduz inexoravelmente a nossa civilização à sua auto-castração, em nome de uma alteridade radical, mortífera da nossa identidade.

ABECEDÁRIO 2006 (II)

Neste artigo retomamos a metodologia do abecedário 2006 (I), pelo que dispensamos a sua descrição. Tínhamos ficado na letra “I”.

I2Islamismo político radical. Triste, mais triste não há. As manifestações a propósito das caricaturas do Profeta ou as que sucederam ao discurso do Papa, em Ratisbona, revelam a mão sombria, feudal, primária, violenta, e acrítica em que se transformou uma boa parte do mundo muçulmano. Se não levarmos a sério o que se está a passar, pagaremos em breve um preço pesado pela cobardia encapotada de muitos dos nossos dirigentes políticos.

JJesus. O Natal de 2006 foi marcado, em vários pontos da Europa, pela interdição dos sinais cristãos que sinalizam o seu nascimento. Pior é difícil. Eu, que não sou crente, em 2007, vou ajudar a fazer um presépio.

KKerry, John. A esperança de uma mudança nos Estados Unidos que, na sua derrota, abriu as portas ao sintoma Bush II. Ou seja, a uma política simplista, neo-isolacionista, com laivos de um império em decadência. Se Kerry tivesse ganho, não teríamos assistido ao lamentável espectáculo que foi a política norte-americana em 2006.

LLíbano – A aparente “derrota” do exército israelita ficou a dever-se em exclusivo ao descarado apoio que o Irão e a Síria deram ao Hessbolah. A política mendicante ao alcance das bolsas terroristas, que compraram com um punhado de dólares as almas libanesas. Horrível de se ver, intragável para o pensar.

MMinorias. No lugar da integração das minorias étnicas ou religiosas, assistimos, na Europa, à genuflexão vergonhosa da nossa identidade cultural.

NNinguém. O Sr. Zé-ninguém continua a ser objecto de cobiça para a minoridade política, enquanto conta ao milímetro os miseráveis euros com que tem de viver.

OO.P.A.. O espectáculo OPA parece não ter fim. O braço de ferro entre Granadeiro e Belmiro de Azevedo continuará seguramente em 2007.

PPortugal. País pequeno, maltratado, sem crescimento económico visível e onde a esperança estiola. Esperamos, em todo o caso, que Sócrates melhore a “coisa”.

QQuando. Quando vamos sair da crise?

RRatzinger. O “conservador” consultou os bispos sobre o celibato sacerdotal, citou Eros na Encíclica, admitiu o uso de preservativos e apoiou a entrada da Turquia na União Europeia. Um professor universitário fez mais e mais depressa que o seu antecessor, Papa risonho, mas com pouco para dizer.

S - Steiner – A sua escrita continua a surpreender-nos. Urge adquirir a segunda edição das entrevistas, publicadas pela Fenda em 2006.

TTurquia. A sua adesão à União Europeia, uma vez mais adiada, resolveria o problema da democracia na Europa, alienado no eixo económico Paris-Berlim. 80 Milhões de novos europeus musculariam o eixo democrático da União Europeia.

UUnião Europeia. O crescimento do espaço geopolítico da União Europeia é o maior desmentido da sua pseudo-fraqueza.

VVinho. Os vinhos portugueses, em 2006, melhoraram substancialmente.

XXanana Gusmão. O presidente timorense, para além de ser casado com uma australiana, deixa que a senhora mande no país. O curioso é que julga que ninguém sabe.

ZZapatero. O primeiro-ministro espanhol não tem medo da igreja nem dos restos do franquismo.

ABECEDÁRIO 2006 ( I )

O ano de 2006 pode ser apresentado em várias versões. Escolhemos a “fórmula” de A a Z como sistemática, simples e concisa. Em cada letra escolhemos as pessoas, os factos ou as personagens quanto a nós mais significativas.

AApito Dourado. Um dos mais mediáticos processos judiciais, no qual se revelou o que há de mais patético, tosco e provinciano em Portugal.

B1Bagdad. A cidade mais incendiada, aterrorizada e traumatizada em 2006. Milhares de mortos incluindo soldados americanos. O desaparecimento da mão ditatorial de Saddam Hussein veio a revelar o extremismo árabe na sua dupla condição sunita e xiita. O terror ao alcance de todos, o “Viva la muerte!”.

B2 Blair. Adorei a derrota de Tony Blair na questão dos bilhetes de identidade. Os ingleses tal como, aliás, os norte-americanos, continuam a rejeitar esse emplastro calunioso para a democracia. Em Portugal, espera-se o proto – fascismo do novo cartão de identificação, no qual só falta vir o número da cueca. Não me apetece usá-lo, já que por ele me sinto insultado.

CCavaco Silva. O novo Presidente da República tem surpreendido tudo e todos. A forma como interpreta o lugar presidencial, a convivialidade com o governo, as posturas públicas a favor da inclusão social, etc. fazem de Cavaco Silva um Presidente que tem conquistado os críticos mais empedernidos, nos quais eu me incluo.

DDurão Barroso. O Presidente da Comissão Europeia tem-se mostrado demasiado discreto, politicamente correcto por excesso, dele se podendo dizer que de Barroso “nada de novo”. Refugiado em Bruxelas não se redimiu da medíocre governação como primeiro-ministro de Portugal. Esperamos melhorias em 2007.

E“Expresso”. O jornal dirigido por Henrique Monteiro soube sobreviver ao seu recém oponente “O Sol”, reinventando, inclusive, o formato de jornal e algum arrojo jornalístico. Não perdendo a sua identidade, o “Expresso” está aí para ficar em 2007.

F Futebol. A notável prestação da selecção nacional no Mundial de 2006 tornou-se motivo de orgulho para os portugueses. Lamento, em todo o caso, e sabendo-me em minoria, as ridículas declarações de Scolari, as quais misturam, num pot pourri delicioso, Nossa Senhora de Caravaggio, crendice vagabunda mais pretensão popular e populista. Esta personagem, gaúcha de origem, aquando das suas declarações públicas, não deveria ultrapassar a picanha ou o rodízio à brasileira.

G1Gore. Al Gore surpreendeu tudo e todos com a sua explosiva escrita sobre o ambiente. Eu, que sobre os verdes apenas temo conseguirem levar a couve portuguesa a primeiro-ministro, nesta matéria tenho de tirar o chapéu ao ex-vice presidente norte-americano. Pôr o dedo na ferida implica coragem, lucidez e capacidade para suportar as inevitáveis controvérsias suscitadas pelas suas declarações.

G2Gato fedorento. O mais notável e criativo programa de televisão em 2006. Um tónico para o baixo nível do espaço televisivo português.

HHolanda. O único país com um verdadeiro partido liberal. As causas “fracturantes” o discurso do passadista e decrépito bloco de esquerda (hamburguer com sabor maoísta, temperado com molho Trotsky) pertencem todas elas ao partido liberal holandês. Da eutanásia à liberalização das drogas leves, ao aborto, à união entre homossexuais, etc. Uma vez mais se vê o provincianismo nacional que faz destas questões, questões de esquerda. Citando Jorge Palma “deixa-me rir…”.

I1Irão. O insuportável como regímen de estado. A mentira histórica levada ao seu ponto mais caricato, contida na afirmação de que o holocausto nunca existiu tratando-se, tão só, de uma “invenção” judia. Nem Hitler se atreveria a tanto, já que lhe chamou “solução final”. Final é também o presidente iraniano que pretende omnipotentemente ameaçar o mundo à custa do urânio tão empobrecido como as funções cognitivas do cavalheiro. A república islâmica xiita, “xia” de desgosto face à desertificação de todo o pensamento que não seja o oficial.

Tuesday, March 13, 2007

Violação

Os comentários do Sheik Taj Din al – Hilali’s, que mereceram pouquíssimas referências na imprensa portuguesa, surpreenderam os australianos. O sheik, residente em Sidney, afirmou a 26 de Outubro que “as mulheres muçulmanas são culpadas da violação, se não utilizarem o véu que lhes cobre a cabeça.”

Ao que parece, desta vez, o sheik foi recriminado pelo próprio clérigo muçulmano. A associação de mesquitas de Sidney suspendeu por três meses o sheik Taj Din al – Hilali’s.

Para além da irrisória medida suspensiva (três meses), considerada pelo primeiro – ministro australiano claramente insuficiente, não nos podemos esquecer que Taj Din al – Hilali’s, já em Dezembro de 2005, tinha proferido idêntico discurso. Perante centenas de fiéis muçulmanos, afirmou que as vítimas de violação não têm direito a dizer não, se não usavam véu.

Os comentários religiosos e ultrajantes do sheik Hilali’s são uma afronta absoluta a toda a sociedade civilizada. Violar mulheres em função da forma como se vestem é da ordem do insuportável.

Aliás, se o conteúdo manifesto se dirige ao feminino, através das afirmações caricatas, tais como (“para que uma mulher seja absolvida da culpa da violação, deverá ter mostrado anteriormente um comportamento muçulmano adequado”), já o conteúdo latente das suas afirmações deverá ser objecto de observação. Ao convocar o despertar no homem de instintos animais, o sheik referido insulta duplamente o humano e o animal, já que não conheço animal algum que viole gratuitamente outros animais. Ou seja, a condição masculina no homem está abaixo da observável na natureza.

Mas o sheik Hilali’s não está sozinho. Em 2005, o sheik libanês Faiz Mohammed tinha afirmado que as mulheres muçulmanas vítimas de violação não podiam queixar-se senão delas mesmas. Mulheres que não usam vestes adequadas são um convite à violação masculina.

Poucos meses mais tarde, em Copenhaga, o mufti Shahid Mehdi se tinha adiantado no discurso, considerando que as mulheres sem véu convidam à violação. Mais, o sheik egípcio al – Quradawi não só acusou a mulher muçulmana que não use véu de convite à violação, como foi mais longe. No seu dizer, estas mulheres, apesar de violadas, deveriam ser punidas pela “imodéstia do seu vestuário”.

O que encontramos aqui retratado é tão somente um formulário medieval caricato, com base num discurso oriundo do século VII. Neste sentido, os discursos de al – Hilali’s são quase tão perigosos como as bombas terroristas num século globalizado e em que as palavras são expostas através dos media.

Não admira, pois, que muitos australianos reivindiquem a deportação imediata do sheik.

O multiculturalismo beato não pode ignorar que os muçulmanos, a começar pela sua liderança, devem aceitar os nossos valores, porque escolheram viver na Austrália, na Europa, etc.

Temo que, a menos que olhemos direito para os factos, temos de vir a lamentar no futuro a experiência idealística da aceitação “liberal” de formas religiosas nas antípodas da nossa concepção do mundo.

A “Serpente” da Bíblia ressuscita pela voz de um Islão caricato.