Thursday, November 09, 2006

LOGOS


Gostei particularmente da intervenção do Presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, a propósito da conferência universitária de Bento XVI, ou melhor dizendo, do Prof. Ratzinger, agora Papa.

A defesa clara da liberdade de expressão é crucial no momento preciso em que a essência da democracia (a defesa de liberdades, direitos e garantias) está mais e mais comprometida pelos processos securitários, gerados pelas sociedades ocidentais como resposta ao terrorismo internacional, nomeadamente islâmico.

Gostei também das declarações do chefe do governo espanhol, Rodriguez Zapatero, sobre as palavras do Papa. Tanto mais quanto Zapatero “não vai à missa” com a Igreja Católica de Espanha e nem sequer foi à missa proferida pelo Papa no território hispânico. “Este” primeiro-ministro, resolutamente laico, não deixou de afirmar “o seu apoio e plena compreensão ao Papa”. A 21 de Setembro, em Madrid, Zapatero declarou que “o Papa foi muito claro na explicação da sua intervenção” e que em momento algum as palavras papais puseram em causa a fé islâmica e os seus crentes.

De facto, o que Bento XVI nos propôs foi uma relação entre os filhos “muitas vezes desiludidos”, para parafrasear Steiner, de Atenas e Jerusalém. Ou seja, e por outras palavras, uma relação privilegiada entre o pensamento bíblico e o logos helénico. Esta convocação da Razão, que já lhe valeu ameaças dos radicais islâmicos contra a sua própria vida, é a única compatível com a Europa saída do Iluminismo. Face àquela, nada, nem mesmo nada, poderá virar-se contra a razão e a racionalidade inerentes aos nossos sistemas sociais.

O Comissário europeu para a Segurança, Liberdade e Justiça, Franco Frattini, afirmou (“apelo aos estados membros para levarem a sério as ameaças contra o Papa”). Frattini afirmou ainda que a Europa se encontra sob duas ameaças terroristas. Uma, dirigida aos Estados e aos seus cidadãos e outra, dirigida ao Papa e ao Vaticano, algo confirmado, aliás, por várias declarações oriundas de grupos extremistas islâmicos, convocando a intenção de atacar o território do Vaticano e o próprio Bento XVI.

Mas será que uma pressão exógena à nossa cultura nos poderá fazer vacilar? Ou, pelo contrário, devemos ater-nos às palavras de Kant no prefácio à 1ª edição da “Crítica da Razão Pura” (1781)

Afirmou o famoso filósofo (“A nossa época é a época da crítica, à qual tudo tem de se submeter. A religião pela sua santidade e a legislação, pela sua majestade, querem igualmente subtrair-se a ela. Mas então suscitam contra elas justificadas suspeitas e não podem aspirar ao sincero respeito, que a razão só concede a quem pode sustentar o seu livre e público exame.”).

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