Thursday, November 09, 2006

UNIVERSIDADE

É sempre bom saber o que as coisas querem dizer. Ajuda-nos a reflectir sobre a intencionalidade das palavras que as designam. Por exemplo, “Universidade”; reza o dicionário Houaiss (2003) que aquela diz respeito, em primeiro lugar, a uma qualidade ou condição. Esta é da ordem do universal. Assim sendo, a universidade é a instituição que nos abre à complexidade do que nos rodeia, ou seja, às leituras do Universo.

Por outro lado, uma universidade é uma instituição de ensino e pesquisa, constituída por um conjunto de faculdades e escolas destinadas a promover a formação profissional e científica de pessoal de nível superior e realizar pesquisa teórica e prática nas principais áreas do saber humanístico, tecnológico e artístico e a divulgação dos seus resultados à comunidade científica mais ampla (Houaiss 2003).

“Universitas” é o étimo de universidade e reenvia-nos a universalidade, totalidade.

Serve esta incursão pelo dicionário para enquadrar as recentes práticas de estudantes universitários, as quais, para além do velho e estafado discurso sobre propinas, etc., se fazem agora também em nome de uma exigência de emprego para os licenciados pelas universidades portuguesas.

Nem universidade, nem universitário, ou seja, aquele que pertence à universidade (professor ou discente) trazem consigo uma reivindicação estranha ao espírito ou à qualidade universitária, isto é, o seu universitarismo.

Perguntar-se-á, então, o que move alguns estudantes universitários, exclusivamente oriundos das instituições de ensino superior públicas, para, despudoradamente, exigirem às universidades aquilo que a elas não compete. Esta pura demagogia, este neo-populismo que campeia em afirmações destituídas de qualquer espírito crítico, parecem, no entanto, acolher alguma recepção pública.

E, no entanto, mesmo que o problema fosse enquadrável na formação superior, única responsabilidade que a instituição universitária tem para com os seus discentes, uma evidência joga contra o patuá alarmista sobre a empregabilidade dos licenciados.

Veja-se a este propósito as declarações de Francisco Madelino, presidente do I.E.F.P.. Naquelas, é visível não só a necessidade de uma readaptação dos jovens licenciados ao mercado de emprego, como também números esclarecedores. Efectivamente, os que dispõem de maiores habilitações são os que têm mais hipóteses de encontrar emprego. Aos 14 meses, média geral do tempo de desemprego, contrapõem-se os 8 meses que os licenciados demoram a encontrar trabalho. Aliás, o nível de empregabilidade naqueles que possuem instrução superior aumentou 3,7%, número que nos obriga a reflectir. Por isso, Madelino é incisivo nas suas declarações (“Não há licenciados em excesso no país”).

Então, não só as manifestações carecem de finalidade nos intra-muros das universidades, como se revelam incongruentes com a realidade.

Uma universidade é um lugar onde se pesquisa, ensina e se aprende. Não é, nem nunca poderá ser, uma bolsa de emprego para os que nela estudaram. O resto resulta de uma pseudo-ingenuidade que só serve para criar ruído no universo da razão.

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