Tuesday, March 13, 2007

Violação

Os comentários do Sheik Taj Din al – Hilali’s, que mereceram pouquíssimas referências na imprensa portuguesa, surpreenderam os australianos. O sheik, residente em Sidney, afirmou a 26 de Outubro que “as mulheres muçulmanas são culpadas da violação, se não utilizarem o véu que lhes cobre a cabeça.”

Ao que parece, desta vez, o sheik foi recriminado pelo próprio clérigo muçulmano. A associação de mesquitas de Sidney suspendeu por três meses o sheik Taj Din al – Hilali’s.

Para além da irrisória medida suspensiva (três meses), considerada pelo primeiro – ministro australiano claramente insuficiente, não nos podemos esquecer que Taj Din al – Hilali’s, já em Dezembro de 2005, tinha proferido idêntico discurso. Perante centenas de fiéis muçulmanos, afirmou que as vítimas de violação não têm direito a dizer não, se não usavam véu.

Os comentários religiosos e ultrajantes do sheik Hilali’s são uma afronta absoluta a toda a sociedade civilizada. Violar mulheres em função da forma como se vestem é da ordem do insuportável.

Aliás, se o conteúdo manifesto se dirige ao feminino, através das afirmações caricatas, tais como (“para que uma mulher seja absolvida da culpa da violação, deverá ter mostrado anteriormente um comportamento muçulmano adequado”), já o conteúdo latente das suas afirmações deverá ser objecto de observação. Ao convocar o despertar no homem de instintos animais, o sheik referido insulta duplamente o humano e o animal, já que não conheço animal algum que viole gratuitamente outros animais. Ou seja, a condição masculina no homem está abaixo da observável na natureza.

Mas o sheik Hilali’s não está sozinho. Em 2005, o sheik libanês Faiz Mohammed tinha afirmado que as mulheres muçulmanas vítimas de violação não podiam queixar-se senão delas mesmas. Mulheres que não usam vestes adequadas são um convite à violação masculina.

Poucos meses mais tarde, em Copenhaga, o mufti Shahid Mehdi se tinha adiantado no discurso, considerando que as mulheres sem véu convidam à violação. Mais, o sheik egípcio al – Quradawi não só acusou a mulher muçulmana que não use véu de convite à violação, como foi mais longe. No seu dizer, estas mulheres, apesar de violadas, deveriam ser punidas pela “imodéstia do seu vestuário”.

O que encontramos aqui retratado é tão somente um formulário medieval caricato, com base num discurso oriundo do século VII. Neste sentido, os discursos de al – Hilali’s são quase tão perigosos como as bombas terroristas num século globalizado e em que as palavras são expostas através dos media.

Não admira, pois, que muitos australianos reivindiquem a deportação imediata do sheik.

O multiculturalismo beato não pode ignorar que os muçulmanos, a começar pela sua liderança, devem aceitar os nossos valores, porque escolheram viver na Austrália, na Europa, etc.

Temo que, a menos que olhemos direito para os factos, temos de vir a lamentar no futuro a experiência idealística da aceitação “liberal” de formas religiosas nas antípodas da nossa concepção do mundo.

A “Serpente” da Bíblia ressuscita pela voz de um Islão caricato.

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