Tuesday, December 20, 2005

NEM SE ESTRANHA NEM SE ENTRANHA

As declarações de Manuel Alegre a Maria Flor Pedroso, na Antena Um, provocaram um sem número de respostas na comunicação social. Quanto a nós, a mais relevante foi a de Carlos Magno. Estou tanto mais à vontade para o dizer, quanto com Magno me “encontro” semanalmente no programa “Alma Nostra” onde, muitas e muitas vezes, já publicamente discordámos. Em questões bem mais sérias, complexas.

Porém, para o agora e hoje, Carlos Magno criticou Alegre na sua quase hiperbólica entrevista, no dia 15 de Dezembro, às 12 horas, isto é, bem antes do resultado das sondagens, entretanto dadas a conhecer pelo “Expresso”. Dessa crítica enfatizo:

- Alegre “inchado pelas sondagens”. No espelho (um imaginário psicanalítico), o espelho travestiu-se em feira de espelhos e a imagem deformada sondou o candidato Manuel pelo seu lado mais alegre. Embora, como Freud afirma, só o real nos pode trazer a verdadeira satisfação.
- Carlos Magno dixit de novo. Sobre Alegre outra vez. Este teria “um Ego maior do que a sua própria ideia de Pátria”. Psicanaliticamente seria possível traduzir a leitura jornalística como uma confusão típica, mas complexa entre um Ideal do Eu (a Pátria) e o Eu Ideal (o Próprio).

Se Magno tiver razão, já que apenas o cito, então a Pátria Camoniana é uma vez mais o lugar do Espelho. Desta vez o da Branca de Neve, melhor, o que aparece no filme Branca de Neve e na respectiva história. A pergunta era a seguinte: “Espelho meu/há alguém mais bonita do que eu?” O que se pode traduzir para “quase” todas as virtudes, camoniana ou não.
- Carlos Magno por uma última vez. Enquanto Maria Flor Pedroso ia cuidadosa e gentilmente pondo questões, Alegre responderia mais ou menos o seguinte. Não estou aqui a ser interrogado como se fosse na Policia…,. Ou seja, e falando uma vez mais a partir da observação psicanalítica, se o Ideal do Eu obriga o Eu Ideal a ser maior do que ele, desvaloriza e ridiculariza o Super-Eu. Já que este, sendo e contendo a instância psíquica onde se localiza o conceito de autoridade (a Policia) é utilizado tão só como contra-argumento defensivo, mas não persuasivo. Efeito/sintoma do candidato a Belém, que ainda confunde os tempos em que foi interrogado pela Policia (pela PIDE salazarista) e os de hoje. Mas como também eu lá “malhei com os ossos” duas vezes, estou à vontade, a partir do comentário de Magno, para afirmar que a “lógica” da resposta só surpreende quem não quer ver o excesso de memória do passado, em Alegre.

Porém, “apanhado” pelas sondagens do passado fim-de-semana, Alegre já nem sequer consegue fazer ecoar a proposta pessoana para a publicidade à Coca-Cola em Portugal. Com Soares claramente à sua frente, o foguetório de acusações contra as sondagens já nem se estranha e muito menos se entranham. Ou seja, já não colam.

Lamento profundamente que assim seja, já que o poeta Alegre merece muito mais. O que ajudou a aprovar o famoso orçamento do queijo limiano terá sido sempre assim. Nós é que não o sabíamos.

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