Herdeiro como sou do “Der Deutche Gedänk” (o pensamento alemão), filio a minha cogitação em Kant, na Escola de Magdeburgo, em Hegel, Feuerbach, em Heidegger, mas também em Nietzsche, ou em Karl Krauss, Musil, Holderlin, Rilke, e sobretudo em Sigmund Freud.
Daí o me reconhecer no método, no rigor da perplexidade, na dúvida sistematicamente enunciada. Por aí ainda me reconheço em Clausewitz e no classicismo da sua obra magistral “Da Guerra” (1832), que só os tontos pensam estar ultrapassada. Mas também me reconheço e, sobretudo, me conheço na notável obra “A ideia de Europa”, de George Steiner, dada, recentemente a público, pela Gradiva, com prefácio insinuante, mas cauteloso de José Manuel Durão Barroso.
Neste último me reconheço europeu na “unidade da diversidade”. Nele me revejo na frase “Quem diz cultura, diz liberdade e diz diferença”.
Reconheço-me menos, Durão Barroso, quando José Manuel, silogisticamente aponta a letra e o discurso de Steiner, como “desencanto” e o liga aos “resultados negativos” dos referendos sobre a Constituição Europeia.
Tanto mais quanto, para Steiner, a Europa é sobretudo feita de três coisas. Os “cafés”, desde os de Lisboa de Fernando Pessoa, aos de Odessa, Palermo, aos de Copenhaga, pelos passeios quase bizarros de Kierkegaard, aos de Paris de Beaudelaire, Danton e Robespierre (o Procope). A Europa é para Steiner “um mapeamento dos cafés”. Não posso estar mais de acordo. Em segundo lugar, a Europa para Steiner, foi percorrida a pé. A começar pelos promeneurs, pelos flaneurs e, sobretudo, a refundar na retórica grega, pelos peripatéticos. Literalmente os que percorriam a pé e se faziam percorrer de polis em polis. Ontem (hoje/amanhã), refeitos por Kant em Königsberg, por Charles Péguy, etc. Em terceiro lugar, a Europa é um lugar toponímico para o autor da “A Ideia de Europa”. Milão, Weimar, Praga, Lisboa, evocam pelo nome da rua a Europa. Sempre ela, como espaço “sombrio e soberano”, onde se faz o “lugar da memória”.
Porém, como afirma Steiner, não há nem cafés, nem sinos de aldeia (a Europa a pé), nem toponímia nos E.U.A. Já que os cafés trazem consigo o problema americano de ninguém ali poder escrever fenomenologia num café. Veja-se Sartre e o café Deux Margots. Ainda que de intelectual “messiânico” não tenhamos nada, já que nos revemos mais na postura ateniense dos intelectuais como conselheiros de poder. Mas, na América, para parafrasear o autor, “as bebidas têm de ser renovadas, se o cliente continuar a ser desejado”. Steiner também nos diz sobre a vantagem geológica da Europa. Nesta não existiam os “grandes bosques” do Pacífico, o Alasca e muito menos a rocha de Ayer, na dimensão australiana, rocha essa “quase irrelevante para o Homem”. A terceira questão steineriana é a toponímia. Em Paris, as ruas convocam pelo seu nome Descartes, Comte, Racine, Molière. Mozart, Adorno, dão nome a ruas alemãs ou em Londres ao movimento de Bloombury, a cientistas, filósofos, etc.
A América não tem cafés, mas tem os pântanos da Florida ou o Grand Canyon. Tem também as ruas simplesmente numeradas, já que “os automóveis não têm tempo de considerar uma Rue Nerval ou um Largo Copennicus”.
Mas são apenas (América e Europa) diferentes. Nem piores, nem melhores.
Sugeriria para terminar que nos guiássemos por três coisas. O rigor do pensamento alemão, a elegância platónica/aristotélica europeia figurada nos “ci-devant” da revolução francesa, e a velocidade de execução inaugurada por Ford, com a metaforização do automóvel, como rapidez de decisão. Por isso o meu pseudónimo é DGEA. Pensamento alemão (DG)+Europa+América.
Somar o melhor de três pensamentos. Por isso recomendo ao leitor a compra da obra de Steiner. No Natal ofereça-o a todos os seus amigos. Por favor, obrigado.
Daí o me reconhecer no método, no rigor da perplexidade, na dúvida sistematicamente enunciada. Por aí ainda me reconheço em Clausewitz e no classicismo da sua obra magistral “Da Guerra” (1832), que só os tontos pensam estar ultrapassada. Mas também me reconheço e, sobretudo, me conheço na notável obra “A ideia de Europa”, de George Steiner, dada, recentemente a público, pela Gradiva, com prefácio insinuante, mas cauteloso de José Manuel Durão Barroso.
Neste último me reconheço europeu na “unidade da diversidade”. Nele me revejo na frase “Quem diz cultura, diz liberdade e diz diferença”.
Reconheço-me menos, Durão Barroso, quando José Manuel, silogisticamente aponta a letra e o discurso de Steiner, como “desencanto” e o liga aos “resultados negativos” dos referendos sobre a Constituição Europeia.
Tanto mais quanto, para Steiner, a Europa é sobretudo feita de três coisas. Os “cafés”, desde os de Lisboa de Fernando Pessoa, aos de Odessa, Palermo, aos de Copenhaga, pelos passeios quase bizarros de Kierkegaard, aos de Paris de Beaudelaire, Danton e Robespierre (o Procope). A Europa é para Steiner “um mapeamento dos cafés”. Não posso estar mais de acordo. Em segundo lugar, a Europa para Steiner, foi percorrida a pé. A começar pelos promeneurs, pelos flaneurs e, sobretudo, a refundar na retórica grega, pelos peripatéticos. Literalmente os que percorriam a pé e se faziam percorrer de polis em polis. Ontem (hoje/amanhã), refeitos por Kant em Königsberg, por Charles Péguy, etc. Em terceiro lugar, a Europa é um lugar toponímico para o autor da “A Ideia de Europa”. Milão, Weimar, Praga, Lisboa, evocam pelo nome da rua a Europa. Sempre ela, como espaço “sombrio e soberano”, onde se faz o “lugar da memória”.
Porém, como afirma Steiner, não há nem cafés, nem sinos de aldeia (a Europa a pé), nem toponímia nos E.U.A. Já que os cafés trazem consigo o problema americano de ninguém ali poder escrever fenomenologia num café. Veja-se Sartre e o café Deux Margots. Ainda que de intelectual “messiânico” não tenhamos nada, já que nos revemos mais na postura ateniense dos intelectuais como conselheiros de poder. Mas, na América, para parafrasear o autor, “as bebidas têm de ser renovadas, se o cliente continuar a ser desejado”. Steiner também nos diz sobre a vantagem geológica da Europa. Nesta não existiam os “grandes bosques” do Pacífico, o Alasca e muito menos a rocha de Ayer, na dimensão australiana, rocha essa “quase irrelevante para o Homem”. A terceira questão steineriana é a toponímia. Em Paris, as ruas convocam pelo seu nome Descartes, Comte, Racine, Molière. Mozart, Adorno, dão nome a ruas alemãs ou em Londres ao movimento de Bloombury, a cientistas, filósofos, etc.
A América não tem cafés, mas tem os pântanos da Florida ou o Grand Canyon. Tem também as ruas simplesmente numeradas, já que “os automóveis não têm tempo de considerar uma Rue Nerval ou um Largo Copennicus”.
Mas são apenas (América e Europa) diferentes. Nem piores, nem melhores.
Sugeriria para terminar que nos guiássemos por três coisas. O rigor do pensamento alemão, a elegância platónica/aristotélica europeia figurada nos “ci-devant” da revolução francesa, e a velocidade de execução inaugurada por Ford, com a metaforização do automóvel, como rapidez de decisão. Por isso o meu pseudónimo é DGEA. Pensamento alemão (DG)+Europa+América.
Somar o melhor de três pensamentos. Por isso recomendo ao leitor a compra da obra de Steiner. No Natal ofereça-o a todos os seus amigos. Por favor, obrigado.
2 comments:
Caro Mestre,
O DG(EA) rima com uma das mais fenomenais editoras discográficas alemãs - Deutsche Grammophon -, cujo espólio é imenso... Não se espantará, por certo, se, do dito espólio, destacar Wagner, Karl Böhm, Windgassen...
Um abraço,
João, ossia...
Um Psicanalista no Expresso do Ocidente, desta feita, em formato «net»? Parece-me que sim! O estilo mantém-se...
Outro abraço
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